Castro (2021) (Movimento) – TNSJ

Com Castro (1598), do poeta António FerreiraNuno Cardoso instala-se pela primeira vez no território de um cânone da dramaturgia portuguesa, pioneiro da tragédia clássica em Portugal. E quer habitar esta ficção literária, ela própria oferecendo uma leitura particular do drama histórico/lenda/mito dos amores de Pedro e Inês, para a dar a “ver com outros olhos”, revelando-lhe a modernidade e densidade intrínsecas, veladas pela poesia da linguagem e pela elocução. Um imenso palco-casa-país, espécie de maquete gigante dos espaços da ação, célula familiar primordial e claustrofóbica, coloca-nos face à intimidade concreta de personagens que se revelam cativas de si próprias e da sua irredutibilidade. Em Castro, como em A Morte de Danton, a questão da utopia (do amor, como da revolução) é crucial. É o seu negro avesso o que se expõe: o amor/desejo e o poder como vício e caos, como prerrogativa, impunidade e prepotência, como cegueira que “escurece daquela luz antiga o claro raio”. E como esse escurecimento tolda a decisão e se replica, tingindo de sangue e vingança o tecido familiar, num peculiar deslocamento do centro de Castro de Inês, e da razão de Estado como ficção e moral, para Pedro, na sua relação especular com o pai, Afonso IV. “Que estrela foi aquela tão escura?”

DE ANTÓNIO FERREIRA

ENCENAÇÃO NUNO CARDOSO
CENOGRAFIA F. RIBEIRO
FIGURINOS LUÍS BUCHINHO
DESENHO DE LUZ JOSÉ ÁLVARO CORREIA
SONOPLASTIA JOÃO OLIVEIRA
VÍDEO FERNANDO COSTA
VOZ CARLOS MEIRELES
MOVIMENTO ELISABETE MAGALHÃES
DRAMATURGIA E ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO RICARDO BRAUN

COM AFONSO SANTOS , JOANA CARVALHO , JOÃO MELO , MARGARIDA CARVALHO , MARIA LEITE , MÁRIO SANTOS , PEDRO FRIAS , RODRIGO SANTOS

PRODUÇÃO TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO