Filho pródigo, Osvald Alving regressa a casa dos pais com uma "infeção", doença que engendra fantasmagorias. Na sua presença, adensam-se as sombras de um conjunto de "atitudes antiquadas e crenças mortas", os "espectros" que envenenam o presente e hipotecam as possibilidades de futuro. Circunscritas a um lugar escuro de onde ninguém sai ou entra, as personagens de Espectros (1881), do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, vivem "com medo da luz", inconformadas com o estrangulamento das suas vidas afetivas, ávidas de um impulso vital que as liberte de uma existência regida pelo conservadorismo e pela omnipresença do dinheiro. "Com Ibsen", escreveu George Steiner, "a história do teatro começa de novo. Isto basta para fazer dele o mais importante dramaturgo desde Shakespeare e Racine." O encenador Nuno Cardoso inscreve-o no repertório deste Teatro Nacional, num gesto programático que importa sublinhar. "Que herdamos nós?", pergunta Helene Alving, mãe de Osvald. Herdamos uma força do passado, tão forte e persistente que continua a ecoar nos nossos "poucos e desalmados" dias.
DE HENRIK IBSEN | TRADUÇÃO SUSANA JANIC | ENCENAÇÃO NUNO CARDOSO | VERSÃO CÉNICA NUNO CARDOSO, MANUEL TUR | CENOGRAFIA F. RIBEIRO | DESENHO DE LUZ JOSÉ ÁLVARO CORREIA | MÚSICA E DESENHO DE SOM JOÃO OLIVEIRA | FIGURINOS TNSJ | VÍDEO LUÍS PORTO | MOVIMENTO ELISABETE MAGALHÃES | ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO MANUEL TUR
COM AFONSO SANTOS, JOANA CARVALHO, JOÃO MELO, MARIA LEITE, MÁRIO SANTOS, RODRIGO SANTOS
PRODUÇÃO TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO
