"Tudo aqui é falso, e tudo deve ser tratado com extrema delicadeza." Escritor e poeta, Jean Genet não se via como dramaturgo, mas fez da virulência da sua escrita dramática um escalpelizador das normas sociais e literárias. Nestas linhas-mestras condensava a essência de O Balcão (1955), peça que reviu obsessivamente e que faz do bordel de luxo onde se desenrola um arquétipo do mundo e do teatro.
Depois da estreia em novembro de 2020, regressamos pela mão de Nuno Cardoso a esta casa de ilusões, um lugar "vizinho da morte, onde todas as liberdades são possíveis". Neste espaço celular e vigiado, circulam personagens que se encenam como figuras de poder. Em fundo, há uma revolução que se incendeia e consome. "O verdadeiro tema da peça é a ilusão", dizia Genet. O equívoco entre o fingido e o autêntico, o dentro e o fora (do bordel ou da cena) é permanente, expondo a maquinaria da farsa do poder e a sua dinâmica social.
Em O Balcão, somos tanto voyeurs como figuras de um teatro de marionetas onde ver e ser visto são o primado. Neste jogo de espelhos, abrem-se parênteses de poesia e de irrisão. Aí, "com seriedade e a sorrir", como queria Genet, revemo-nos em ritual e em avatares dos nossos desejos.
DE JEAN GENET | ENCENAÇÃO NUNO CARDOSO | TRADUÇÃO REGINA GUIMARÃES | DRAMATURGIA NUNO CARDOSO, RICARDO BRAUN | CENOGRAFIA F. RIBEIRO | GUARDA-ROUPA TNSJ | DESENHO DE LUZ FILIPE PINHEIRO | SONOPLASTIA JOÃO OLIVEIRA | VÍDEO FERNANDO COSTA | VOZ CARLOS MEIRELES | MOVIMENTO ELISABETE MAGALHÃES | ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO RICARDO BRAUN
INTERPRETAÇÃO AFONSO SANTOS, ANA BRANDÃO, ANTÓNIO AFONSO PARRA, JOANA CARVALHO, JOÃO MELO, MARGARIDA CARVALHO, MARIA LEITE, MÁRIO SANTOS, RODRIGO SANTOS, SÉRGIO SÁ CUNHA
PRODUÇÃO TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO
