Inspirada por Variações Sobre Um Corpo de Michele Serres, proponho pensar o corpo que permite novas perspetivas sobre ele. Para tal serão utilizadas várias possibilidades de pensar o corpo a partir das suas conexões, nomeadamente o corpo textura, o corpo potência e o corpo narrativa. Não pretendo tratar de uma forma linear e nem excluir qualquer outra forma de abordagem. Pensar o corpo nesta perspetiva traz novas possibilidades de ação e não apenas de reflexão, tendo em conta que a minha proposta não se trata de uma imposição mas antes a tentativa de uma provocação prática para nos incitar não a pensar sobre o corpo, mas a ter, efetivamente um corpo. Não se trata de um "novo corpo", mas de corpos em construção produzidos em cada proposta e em cada movimento que o conecta. Criar uma nova "politica do corpo", diria talvez uma política de intimidade, para mim falar em política não significa militância, mas sim numa mudança na forma de lidar com o corpo, uma prática que tenha em atenção os seus afetos, a sua potência e a sua construção. É menos uma posição política e mais um fazer político, de resistência, que não pretende opor-se à ciência nem à sociedade, mas que se coloca no meio, entre, produzindo desvios, conexões raras, invulgares, formas de resistência pela potencialização do corpo. Um corpo como dispositivo de conexão, operando por encontros que surpreende os seus limites e que desafia a sua estabilidade. A visão política vem desses desafios, na medida em que não considera o corpo numa formatação prévia num espaço restringido, ou seja, de não se submeter à lei. O corpo narrativa é este que se constrói num tempo e espaço localizáveis, que leva em consideração os desvios, os benefícios, os relevos do caminho. Uma história nómada, à deriva, que não permanece constante, que se vai estabilizando, criando cenários e paisagens. Assim o corpo não é permanentemente instável, mas mutável, sujeito à transformação e à diferença, sujeito a misturas, fluidos e subversões de fronteiras.
O não reconhecimento de um corpo como seu realça a importância de mostrar o quanto a constituição do sujeito passa pelo corpo: não por esse corpo "dado", mas por um corpo que se constrói, muito mais que um corpo "conhecido" pelo pensamento.
Concepção e Direção: Elisabete Magalhães
Intérpretes: 1º Ano Dança